A industrialização de produtos do agronegócio é uma grande geradora de resíduos, cujo destino tem representado, historicamente, um grande desafio, tanto sob o ponto de vista do reaproveitamento de tais resíduos quanto aos eventuais prejuízos ao ambiente e às pessoas que podem, por meio deles, ser deflagrados. Dessa forma, tais resíduos representam, ao mesmo tempo, boas oportunidades de negócios e também grandes preocupações para que se encontrem destinos que amenizem seus efeitos danosos.
Especificamente no caso da produção de alimentos de origem animal, as partes não comestíveis resultantes do abate de animais correspondem, em média, a mais de um terço do peso bruto do animal vivo. O que fazer com esse grande excedente é uma questão secular, cuja resposta continua desafiando pesquisadores e ambientalistas. Inicialmente, achava-se que os aludidos excedentes poderiam ser jogados no meio ambiente, mas logo se constatou que essa solução era muito prejudicial, pois além da poluição, atraía animais e produzia mau cheiro, ambos de grande impacto no desconforto e no prejuízo à saúde dos humanos.
Segundo dados da ABRA (2016), existem hoje no Brasil, só na área de beneficiamento de resíduos animais, cerca de 340 empresas, caracterizadas como graxarias e fábricas de produtos não comestíveis. Essas empresas processam 12,4 milhões de toneladas de resíduos por ano, o que resulta em, aproximadamente, 5,4 milhões de toneladas de produtos finais, entre farinhas (3,4 milhões de toneladas/ano) e gorduras (2,0 milhões de toneladas/ano).
Ainda de acordo com dados da ABRA, o PIB desse setor de reciclagem animal é de cerca de R$ 8 bilhões e gera empregos diretos para, aproximadamente, 54 mil pessoas, com salários médios bastante concentrados na faixa de 3 a 6 salários mínimos.
A reciclagem animal desempenha um papel estratégico no agronegócio brasileiro, pois tem uma função essencial no controle ambiental, dada a especificidade dos produtos (resíduos) gerados na indústria de abate ou de processamento de carnes ou alimentos. O alto conteúdo de água e a alta concentração em proteína ou gordura transformam o resíduo animal, como o sangue, num produto biologicamente ativo e de alto risco de transmissão de doenças ou de contaminação ambiental. Nesse sentido, a necessidade de remoção rápida do frigorífico ou o tratamento neste exigem uma logística específica e ágil. A indústria de reciclagem, portanto, por si só já justifica sua existência. Assim, numa primeira abordagem, essa indústria desempenha um papel que, na sua essência, é como uma recolhedora de lixo num centro urbano. No entanto, a sua relevância é ainda maior, pois, caso não seja removido o resíduo de uma indústria de abate, essa indústria, por legislação específica, tem seu processo interrompido. Afora esse aspecto, a reciclagem desempenha um papel relevante na sustentabilidade ambiental, associada às carnes, pois a reciclagem reduz a necessidade de tratamento de dejetos por uma indústria de abate, com menores riscos e custos ambientais.